"Eu odeio o minimalismo.
Eu o odeio como performance artística pessoal, mas eu também odeio (o minimalismo) como estética: branco-sobre-branco-sobre-branco, e um armário meticulosamente montado com roupas e sapatos corretos, básicos, neutros.
Em termos de méritos visuais, ou como um estilo com E maiúsculo, o minimalismo como resultado de hiper-curadoria só transmite uma mensagem: "Queria tomar o caminho mais seguro para o chique, cortar todos os possíveis erros ou riscos. Preciso reduzir o meu olhar ainda mais até que literalmente cada item que eu comprar diga às pessoas 'Eu poderia ter algo mais interessante, mas eu tenho dinheiro suficiente para escolher 'não'.".
Porque vamos ser claros sobre o que a estética minimalista, pelo menos como uma escolha de estilo pessoal, na verdade é: é um arremedo de conotações de simplicidade e até mesmo, em certo grau, ascetismo, sem realmente desistir do luxo.
Sendo minimalista: "Pare de desperdiçar dinheiro em todos os móveis baratos! Com esta mesa de jantar de US$4.000 você nunca precisará de outro móvel!" - o que significa ter dinheiro suficiente para investir no seu guarda-roupa, reduzido a um armário-cápsula com tops básicos caríssimos. A decoração vagamente oriental - porque assumimos que qualquer coisa que não está repleta de cor e estampa é automaticamente oriental - que tomou uma quantidade incrível de tempo e atenção para montar, com um resultado que parece casual.
O minimalismo assim é apenas outra forma de consumo, uma maneira de dizer ao mundo: "Olha só todas as coisas que me recuso a comprar, e os itens incrivelmente caros, esparsos que eu julguei dignos!" Acredito que temos o direito de comprar o que quisermos, mas fingir que a intenção e o custo de uma vida minimalista-chique não é uma postura privilegiada é ridículo.
O fenômeno minimalismo-como-luxo-bom tem tudo a ver com o fenômeno minimalismo-como-falso-espiritualismo. O minimalismo como um tipo secular de religião, um complemento às culturas de Ioga e sucos verdes e bem-estar geral, reunidos num mesmo prato de práticas culturais e espirituais, sem nunca se comprometer plenamente com cada um.
A implicação desse tipo de minimalismo é óbvia: as únicas pessoas que podem "praticar" o minimalismo são as pessoas que podem pagar. Você não pode escolher "desapegar" se já vive com pouco, e não pode re-mobiliar. Não podemos fingir que a redução performativa do consumo, ou a opção de apenas consumir de certas maneiras, não é uma exibição de privilégios, e enquadrá-la como uma escolha moral é ofensivo.
Mas a verdade é que, como acontece com tantos outros fenômenos sociais de homens brancos, este minimalismo espiritual tem essencialmente se tornado uma competição, que neste caso é a de quem "tem menos merda".
Mesmo ignorando os recortes classe, esta idéia de que qualquer "desapego" é automaticamente uma coisa positiva é simplesmente uma escolha estética sendo colocada como moral, porque, vamos ser honestos, é realmente fácil olhar para o que (quase sempre) mulheres possuem como sendo totalmente fútil. Maquiagem, armários mais elaborados, decoração acolhedora, arte, material de artesanato - não é uma coincidência que a maioria das coisas que dizem que devemos desapegar de nossas vidas sejam coisas que principalmente as mulheres acumulam.
E, sim, é importante comprar de maneira ética e reduzir o consumo, desde que o argumento seja para uma sociedade mais equitativa em que as pessoas consomem proporcionalmente às suas necessidades.
(Se você precisar de um exemplo da sacralização do minimalismo, observe a fetichização da "simplicidade" dos ultra-ricos: seus lofts limpos, seus armários-cápsula grifados, suas dietas elaboradamente reduzidas.)
O ponto é, o minimalismo é tão superficial como qualquer outra coisa que poderia desfilar na Semana da Moda, apenas com uma camada adicional de condescendência. Não devemos nos enganar: esse tipo de "minimalismo" é apenas outro produto que as pessoas ricas podem comprar."
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Imagem: Pinterest. Texto de Chelsea Fagan via The Guardian, que traduzi livremente e reproduzi aqui porque tem tudo a ver com outra discussão que já mostramos por aqui, a do cafona. Vistos os dois polos como estéticas de consumo e escolhas de classe, abrimos um canal de pensamento e de discussão. Então diga: o que você acha disso?