Esponja causou rebuliço nas redes sociais. Venha entender a história e as razões.
Você pode não assistir / odiar / amar o Big Brother Brasil, e em todos os casos - a não ser que você estivesse numa caverna isolada, em um monastério ou morando por 18 anos na Alemanha como a Inês Brasil :-) - sabe que ele começou. Sua (pré-)estreia foi marcada por uma avalanche de críticas nas redes sociais a uma esponja. Sim. Uma esponja de cozinha em formato de um dançarino negro com black power. A internet explodiu quando uma imagem com esse item foi divulgada.
“Os que tão dizendo que não tem nada demais um black ser usado como esponja não têm noção do que é ser ‘zuado’ a vida toda de cabelo de ‘bombril’. Não têm noção do que é, desde os 6 anos de idade, sua mãe te levar num salão de beleza pra passar química forte no cabelo porque ela não sabe lidar com ele e quer que a filha seja mais aceita, porque sabe o quão difícil foi pra ela e não quer que a filha passe pelo mesmo. A galera insiste em pôr preto de empregado, negro de bandido... Agora me vem com preto de esponja?" Rafaela Garcez, 18 anos, estagiária da Escola Popular de Comunicação Crítica
Entretanto, para alguns, a existência de personagens brancos (e amarelo) dissipa o argumento de racismo, e o porta-voz da Paladone disse que as esponjas foram desenhadas para tornar mais divertida a tarefa diária de lavar louça.
Coletamos da internet - de matéria do Tecmundo e também da revista Veja - alguns comentários de quem não enxerga racismo na peça. Os comentários podem ser vistos na imagem acima.
Na loja gringa Amazon, onde ela a esponja é vendida junto com outras da mesma linha, aparentemente ninguém enxergou esta questão. Lá é possível encontrar comentários como "I love my Afrobush." Mas é preciso entender que como país vivemos um momento histórico diferente. Ao navegar pelo Facebook, vemos vários relatos, semelhantes ao da Rafaela Garcez sobre o episódio e de como isso é prejudicial para a identidade negra.
"Num primeiro momento olhei pra esponja e pensei “mas o que isso tem de mais?” mas fiquei calada, porque uma coisa que eu aprendi na vida é NUNCA usar o espaço de luta de alguém pra desviar o assunto. Isso é uma tentativa, mesmo que involuntária, de invisibilizar/diminuir a luta do outro. Desenhando: eu não entro numa discussão sobre racismo pra falar que branco/índio/verde também sofre. Eu não entro em discussão sobre misoginia/feminismo pra dizer que homem também sofre. Eu não entro em discussão sobre gordofobia pra dizer que gente magra também sofre. Não vou num lugar onde estão falando sobre preconceito contra qualquer grupo pra falar sobre a exceção àquele caso, porque não enriquece a conversa, apenas a esvazia. Então, depois de ler muitas opiniões acho que esta peça não ajuda nada quem sofre com o racismo. Alguém vê e já sai fazendo piada “lavo minhas loça com HUESHHUESH”. E sim, a relação com uma posição de serviçal inferior é óbvia. E por isso já vale a discussão e a retirada da peça da função de lavar louça." Simone Schettino, jornalista
Outros utensílios de cozinha encontrados na Amazon |
Decorar é um exercício de criatividade, pesquisa e decisão, que geralmente leva em consideração questões como gosto e identificação pessoal (e orçamento). Refletir sobre nossas escolhas em nossa casa é mesmo uma necessidade - cada vez mais - política. Se a casa não é nossa, e ainda por cima estiver em exibição - como no caso do Big Brother Brasil, mas não somente - uma atenção triplicada é necessária. A maior dificuldade mesmo é prever estas nuances, se colocar no lugar "do outro".
Felizmente a história acabou bem, pelo menos no BBB16, com o episódio acima, protagonizado pelo participante Ronan, estudante de filosofia e negro :-)
E você, o que acha? Teria uma esponja dessas em sua casa? E com isso, fazemos um questionamento: uma vez que nossa liberdade termina onde começa a do outro, em se tratando de decoração e da casa da gente, onde começa a liberdade do outro? Divida conosco sua opinião nos comentários!