Tia Wiki conta que João Artacho Jurado (1907-1983) era o proprietário da empresa de construção Monções Construtoras, e foi responsável pelo projeto e construção de vários edifícios residenciais estranhos na década de 1940 e 1950, no centro de São Paulo e adjacentes, e no bairro Higienópolis.
Filho de pai anarquista, ele foi obrigado a abandonar a escola ainda no primário, porque seu pai não admitia que jurasse à bandeira (o que era exigido no colégio). Assim, Jurado não tinha diploma de curso superior de arquitetura, viveu perseguido pelo CREA e precisava que outros arquitetos assinassem seus projetos.
Com prédios kitsch que misturam colunas cor-de-rosa, mármore, arabescos, ladrilhos azuis e tapetes vermelhos, João Artacho Jurado "fez prédios loucos e lindos"(® Juliana Cunha), como o Cinderela, o Bretagne e o Parque das Hortênsias.
Com 70 m2, no piso térreo, dividido em sala, dois mini-quartos, banheiro e cozinha, e com apenas duas janelas, o causo é que o apartamento do zelador do edifício Cinderela estava à venda. Em um apê sem luz, você se interessaria? #eunão.
Mas o Cinderela - no bairro Higienópolis, São Paulo - foi projetado por ninguém mais ninguém menos que nosso querido João Artacho Jurado, em 1956 e, como não tá fácil achar um bom imóvel com boa localização, e pedigree, valia a pena encarar a reforma.
O apartamento escuro e mal dividido teve a janela da cozinha ampliada e ganhou luz. E se transformou num loft lindo. E é também sinal dos tempos. Dos tempos em que aumentou o número de residências com uma só pessoa ou um casal. E também é sinal de tempos mais despojados. Mais jolie-laide, com a estética industrial de canos aparentes, do tijolinho, e o hype das paredes de concreto.
É uma transformação e tanto, modernização com um belíssimo resultado, e um exemplo excelente de como o "belo" muda ao longo do tempo, pensa se fosse assim em 1956?)
Projeto e imagens: AR-arquitetos.