Por Carol Costa
Minha avó foi uma cigana moderna: morou em mais cidades do que ouvi falar em todas as aulas de Geografia do Ensino Médio. Viajar para visitá-la era tão freqüente na minha família, que eu quase nasci em um trem a caminho de Piracicaba. “Mamãe vai mudar outra vez!”, comentava minha mãe, desapontada, ao fim de um telefonema para São Sebastião, Rio das Pedras, São Paulo, Ilhabela. Nas casas de minha avó sempre havia caixas pelos cantos – algumas iam de um CEP para outro sem jamais serem abertas. Perdi a conta de quanto dinheiro ela gastou com rescisões de contrato de aluguel. Dona Vera simplesmente não criava raízes.
Foi dessa mulher franzina, mas poderosa, que herdei o gosto por viajar – além de uma preguicinha básica para cozinhar. Como não tenho filhos, as pessoas costumam achar que a única coisa com que me preocupo é em fazer as malas. Quem me dera! Tenho quatro gatos e 148 vasos de orquídeas, sem falar na jabuticabeira, na árvore-da-felicidade, no manacá-de-cheiro, na cerejeira japonesa e num animado filodendro, para citar as plantas mais beberronas de água. Alimentar essa fauna e flora não é moleza: os gatos consomem 4 kg de ração por mês e as verdinhas são regadas diariamente – sim, faça chuva ou faça sol, já que a água que cai do céu mal dá conta de umedecer a terra do canteiro.
Quem salva a pele da jardineira viajante pode ser um porteiro amigo, uma faxineira amiga, um sistema de irrigação amigo ou um amigo-amigo, mesmo, disposto a dar uma passadinha no seu apê e regar a molecada. Hoje tenho um sistema de irrigação que goteja nos vasos e no canteiro externo da varanda. Meeeeesmo assim, tem planta que eu rego na mão, porque irrigação é boa, mas encanamento não faz o milagre de contornar portas e vãos livres (pelo menos não sem ficar horrendo).
Com essas moças abandonadas pela umidade controlada do timer, eu uso a boa e velha técnica da garrafa plástica emborcada no substrato. A engenhoca é mais velha que andar pra frente: basta fazer um furinho no fundo da garrafa e outro na tampinha, encher a garrafa de água (segurando o furinho com um dedo), tampar com a tampinha furada e emborcar o aparato de cabeça pra baixo na terra. Ele vai gotejar tão lentamente quanto menor for o furo da tampinha (eu faço com alfinete de costura). Tchãnãm, está resolvido o mistério de viajantes que criam raízes.
PS: Você tem orquídeas e saco nenhum para arranjar quem as regue durante a viagem? Ponha sua orquídea numa árvore e deixe jesuzinho regar: