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A estética do matagal

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Por Carol Costa

Poucas coisas me deixam tão deprimida quanto ver um cara com uma motosserra, montado em cima de uma árvore centenária. Com as frequentes chuvas e vendavais em São Paulo, isso virou coisa cada vez mais comum por aqui. Contei três árvores cimentadas em uma única semana, e isso só nos 2,5 km que separam minha casa do trabalho.

Se bem feita, a poda deixa a planta mais saudável, porque descarta folhas secas e galhos mal formados, melhorando a distribuição da seiva. Só que a maioria das pessoas simplesmente sai cortando galhos ao leu, com a desculpa de deixar a árvore mais bonita.


É o mesmo que dizem quando eu pergunto pra que trançar o tronco do fícus: “Pra ficar mais bonito”. Sério? Uma arvoreta de copa frondosa, com folhas eventualmente rajadinhas de branco, que fica vistosa o ano todo, já não é bonita o bastante?

Uma toucerinha de sempre-viva não traz uma alegria natural a qualquer cantinho, precisa meeeesmo ser podada em forma de boneco de neve? E a Phalaenopsis, tão vendida por aí com sua haste empinada que nem cisne de cristal, se fosse perguntada, gostaria mesmo é de tombar no vaso e dar flor na horizontal.


Lembro de uma frase do Gero Camilo, na peça Aldeotas, numa cena muito emocionante, em que ele dizia, aos berros: “Liberdade aos pardais selvagens”. É isso ou só eu acho bonito um matagal?

Carol Costa é jornalista e mora em apartamento. É dona de 148 vasos e do Eustáquio - uma planta carnívora que ainda não decidiu se pertence ao reino animal ou vegetal.



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