Outro dia o João falou que aqui não se parece com uma casa de adulto. Porque em casa de adulto não tem papel de chiclete na parede (dentro da moldura amarela de coração). Então nessa hora (mentira, naquela hora não parei pra pensar nisso não, parei agora) fiquei pensando.
Por que faço isso? Seria só por conta da já batida ideia de que a memória tem que morar dentro da casa, e esses objetos falam de onde passamos, do que vimos, de amores e de manias? Acho que não é só isso.
Uma frase citada pelo Bachelard diz: "Conheço uma tristeza com cheiro de abacaxi". E me faz pensar não em tristeza, mas em alegria. Porque não espalhei memórias pela casa. Espalhei só alegrias, pequenas alegrias com cara de bonequinha.
E fantasiadas de papel de chiclete, de colar de contas. A xilo tem dedicatória do J.Borges! A1/2 pessoa me lembra de um dia de sol, numa cidade pequena e linda.
A maçã, ah! Conheço uma alegria esculpida em maçã. :-) É isso. Pra não esquecer de que sou feliz/fui feliz, espalho alegriazinhas pela casa como quem coleciona pedras de acontecimentos. As tristezas? Essas ficam dentro de mim, e tento matar de fome.